Cotidiano

A ilha paradisíaca que quer seus turistas de volta

Cinco meses depois de ataques a bomba no país, Sri Lanka ainda espera pelo retorno dos turistas. Destino tradicional para europeus e asiáticos, as praias do Sri Lanka recebem um fluxo muito menor de turistas após ataques de abril deste ano
BBC
Os ataques suicidas que aconteceram no Sri Lanka, durante o domingo de Páscoa em abril, mataram mais de 250 pessoas — e colocaram em ameaça a indústria do turismo local. Entretanto, depois de cinco meses, há uma luz do fim do túnel, como conta Anbarasan Ethirajan, da BBC, em Colombo.
Há mais de trinta anos, Mary Fernando vende roupas aos turistas na praia de Negombo, nas proximidades da capital.
Carregando sacolas cheias de peças, ela vai de um grupo a outro de turistas tentando persuadi-los a comprar seus lenços, roupas leves e de praia.
Ela faz parte das dezenas de mulheres locais que vendem seus produtos na praia, região repleta de resorts e hotéis. Os ganhos servem de ganha-pão para suas famílias — e os estrangeiros são seus principais clientes.
Mas os turistas se afastaram do Sri Lanka desde o último domingo de Páscoa, em abril. À época, um grupo extremista islâmico atacou hotéis de luxo e igrejas em Colombo e na parte leste do país.
Entre os mortos nos ataques a bomba havia 42 estrangeiros. Nas semanas seguintes ao ocorrido, o número de turistas diminuiu em até 70%.
“Há menos turistas agora, e minha renda já diminuiu em dois terços. É uma luta para vender até US$ 20 em roupas hoje em dia, então espero que os turistas voltem logo”, diz Mary Fernando.
Garotos são vistos brincando na praia, em Colombo, no Sri Lanka
Dinuka Liyanawatte/G1
O impacto foi devastador: o marido dela é pescador, e no período de quatro a cinco meses em que as condições do mar impedem seu trabalho, é a renda de Mary Fernando que sustenta a família.
A recuperação econômica do Sri Lanka, desde maio de 2009, foi uma boa notícia depois de cerca de trinta anos da guerra civil entre o exército e o grupo separatista Tamil Tigers.
Essa melhora ocorreu, em grande parte, graças às praias, montanhas e vida selvagem do país.
Resorts e hotéis espalharam-se rapidamente pela região costeira e por outros pontos turísticos, criando dezenas de milhares de empregos.
No ano passado, o Sri Lanka havia atraído um recorde de 2,2 milhões de visitantes, lucrando o equivalente a 18 bilhões de reais. O guia de viagens Lonely Planet classificou o país como o melhor destino turístico para 2019.
Então, quando os ataques aconteceram, isso pegou a todos de surpresa. Conforme as imagens do massacre e do pesar diante do ocorrido eram transmitidas para o mundo todo, muitos países emitiram alertas de segurança sobre a situação no Sri Lanka. Turistas cancelaram viagens aos montes.
A indústria hoteleira e seus empregados foram alguns dos que mais sofreram com essa crise. As estimativas dão conta de que milhares de funcionários foram considerados “redundantes”, ou não conseguiram renovar seus contratos temporários.
Jilan Rajitha, da cidade litorânea de Bentota, no sudoeste do país, estava trabalhando no mesmo hotel há três anos. De repente, sua vida mudou.
“Eu perdi meu emprego logo depois dos ataques no domingo de Páscoa. Houve cancelamentos imprevistos e 50 de nós fomos dispensados pelo hotel. Eu estou tentando me sustentar com aulas de surfe, mas — como você pode ver — não há muitos turistas”, diz Rajitha, apontando para a praia paradisíaca.
O local está praticamente deserto, exceto por alguns visitantes correndo ou caminhando sobre a areia dourada.
Mas não são apenas os hotéis e suas equipes que sofreram o impacto. Guias turísticos, funcionários de restaurantes e companhias de viagem também foram afetados pela crise inesperada.
Agora, a situação parece melhorar aos poucos, cinco meses depois dos ataques.
Os alertas de segurança foram retirados e o Sri Lanka saiu do estado de emergência. Percebendo o perigo à indústria de turismo, o governo local tomou algumas medidas.
“Hoteleiras que tenham feito empréstimos não precisam pagar o valor obtido nem os juros por um ano. Novos empréstimos têm sido feitos com taxas menores para o capital de giro”, diz Upali Ratnayake, o diretor geral da Autoridade pelo Desenvolvimento do Turismo do Sri Lanka.
Ele afirma que funcionários de hotéis que pediram empréstimos também tiveram direito ao período de carência.
Para atrair mais turistas, o governo ainda concedeu a isenção de taxas de visto para visitantes de mais de 40 países.
Mas o maior incentivo veio da onda de descontos generosos oferecidos por redes de hotéis. Alguns deles diminuíram em até 50% seus preços originais, impulsionando as reservas durante o inverno.
“Exemplos de outros países mostram que podemos demorar de nove meses a até um ano para nos recuperarmos. Mas graças a Deus, talvez nos recuperemos mais rápido”, diz Hiran Cooray, do grupo Jet Wing, que comanda uma rede de resorts e hotéis no Sri Lanka.
“Nossos hotéis estão com lotação de 50%-60% por enquanto, o que inclui hóspedes vindos do Sri Lanka e de fora.”
Os últimos dados mostram queda na chegada de turistas pelo quinto mês seguido em agosto, chegando a 28% dos valores do ano passado. Por outro lado, o número de visitantes tem aumentado desde maio.
A pergunta que fica é essa: esse quadro vai se sustentar?
O Sri Lanka está se preparando para as eleições presidenciais em novembro, o que pode levar a uma tentativa dos partidos políticos de polarizar os eleitores de acordo com aspectos religiosos e étnicos. Depois dos ataques, muçulmanos e seus estabelecimentos comerciais foram atacados em partes do país, e budistas conservadores foram acusados de usar discurso de ódio contra eles.
Qualquer tensão do tipo pode comprometer o turismo.
Também pairam dúvidas sobre a atuação das autoridades em apreender todos os envolvidos nos ataques. Mais de 70 pessoas —que estariam supostamente ligadas ao grupo extremista — foram presas, mas nem todos estão convencidos de que as redes do grupo foram erradicadas por completo.
O governo reforça que a situação atual é pacífica, e que o Sri Lanka voltou a ser um local seguro para se visitar. Mas o desafio continua a ser o de convencer as pessoas ao redor do mundo de que a violência ficou no passado.
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redação

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