Cotidiano

Cultura das boas-vindas continua em alta na Alemanha

Em meio a marchas ultradireitistas e ataques violentos contra migrantes, a “cultura das boas-vindas” alemã chegou ao fim? Estudo sugere o contrário: maioria crê que a população do país acolhe bem os estrangeiros. Pessoas são refletidas em janela em frente ao Portão de Brandemburgo, ponto turístico de Berlim, na Alemanha.
Markus Schreiber/AP
Refugiados e imigração são temas que dominam os talk shows alemães. Rodas de políticos, especialistas e membros da comunidade discutem a suposta perda de controle do Estado e se o sistema de imigração do país teria chegado a seu limite.
Apenas em 2018, autoridades registraram 2 mil crimes contra abrigos de refugiados e solicitantes de refúgio, enquanto as marchas anti-imigração de extremistas de direita aumentaram.
Em 2015, as imagens da Alemanha que circulavam pelo mundo eram bem diferentes: pessoas recebendo refugiados com faixas de boas-vindas nas estações de trem alemãs, carregando suas malas e oferecendo-lhes garrafas de água e bichinhos de pelúcia. Foi quando o termo Willkommenskultur (“cultura das boas-vindas”) veio a definir esse tipo de atitude.
Mas o que aconteceu com esse sentimento desde então? Um estudo da Fundação Bertelsmann, intitulado “Cultura das boas-vindas: entre ceticismo e pragmatismo”, aponta que ele continua “robusto” na Alemanha. Orkan Kösemen, um dos autores do estudo, diz que tal cultura de acolhimento está até num nível relativamente alto.
O instituto de pesquisas de opinião Kantar Emnid entrevistou 2.025 pessoas sobre vários aspectos da imigração. Não foi pedido aos entrevistados que dessem suas opiniões pessoais sobre os refugiados ou como eles se sentem sobre o tema da migração, mas, em vez disso, eles deveriam dar suas percepções sobre a atitude geral dos alemães em relação aos imigrantes e refugiados.
A catedral de Berliner Dom é iluminada em Berlim.
Tobias Schwarz/Reuters
Por exemplo, 79% dos entrevistados acreditam que as autoridades acolhem a maioria dos imigrantes que trabalham; 71% acham o mesmo para os refugiados. Quando se trata do acolhimento por parte da população local, 71% consideram que os alemães consideram imigrantes bem-vindos, e 56% acreditam que os alemães consideram refugiados bem-vindos.
Efeito positivo na economia
Quanto à escassez de mão de obra qualificada, 41% apoiam o recrutamento de trabalhadores do exterior. Dois terços dos entrevistados acreditam que a imigração tem um efeito positivo na economia alemã como um todo. Uma clara maioria também vê positivamente as empresas estrangeiras que operam na Alemanha.
O estudo mostra que a imagem que as pessoas têm dos imigrantes influencia a cultura das boas-vindas. Na Alemanha, ela não é predominantemente positiva: apenas 45% dos entrevistados acreditam que as contribuições dos imigrantes para a sociedade são reconhecidas, um declínio em relação a 2012.
Segundo o estudo, isso pode ser devido ao fato de que refugiados em particular chegaram à Alemanha mais recentemente. A integração de refugiados no mercado de trabalho só produz frutos para o país anfitrião a médio e longo prazo. Além disso, a contribuição das primeiras gerações dos chamados “trabalhadores convidados” parece ter sido esquecida.
Turistas toman sol em frente a Catedral de Berlim, nesta domingo (19). Em alguns lugares da Alemanha, a temperatura chega a 39°C
AP Photo/Gero Breloer
“Migração não é uma questão em preto e branco”, diz Kösemen. “É uma mistura de oportunidades e riscos. E é assim que as pessoas a percebem”, acrescenta.
Estrangeiros demais?
É por isso que, além das oportunidades que muitos veem para a economia, há também avaliações céticas. Uma estreita maioria de 52% considera que tem havido imigração demais. A opinião é dividida de forma similar na questão sobre se a Alemanha atingiu seu limite máximo de imigrantes.
Quase metade, 49%, acha que o país não pode receber mais refugiados. Isso representa uma diminuição em relação a 2017, quando a maioria, 54%, pensava que o limite havia sido atingido. Por outro lado, 37% acreditam que a Alemanha pode – e deve – acolher mais refugiados por obrigação humanitária.
No geral, o ceticismo em relação à imigração diminuiu um pouco desde 2017. Os efeitos adversos continuam sendo percebidos, mas com uma tendência de queda: 71% veem a imigração como um fardo para o estado de bem-estar social; 69% veem que há conflitos entre imigrantes e alemães; 64% temem problemas na escola; e 90% consideram a falta de habilidades linguísticas entre os imigrantes como um obstáculo à integração uma área em que os entrevistados gostariam de ver mais iniciativa.
Turista tira selfie com foca em zoológico na Alemanha
Martin Meissner/AP
Cultura das boas-vindas ainda é jovem
“Embora a Alemanha seja um país de imigração há décadas, a cultura das boas-vindas está ainda em sua juventude”, diz Kösemen. “A Alemanha é um país de imigração jovem, com uma cultura das boas-vindas jovem em dois sentidos: por um lado, porque só percebemos a nós mesmos como um país de imigração entre 10 e 15 anos atrás. Por outro lado, porque a população jovem na Alemanha é muito mais positiva em relação à imigração do que a população mais velha.”
De fato, a geração mais jovem da Alemanha, com menos de 30 anos, difere significativamente das gerações mais velhas em suas avaliações e percepções de imigração e integração. As pessoas mais jovens acreditam que a imigração terá um impacto muito menor, tanto no estado de bem-estar social como na falta de moradias, e se concentram nas oportunidades.
“Isso também ocorre porque a proporção de pessoas com histórico migratório é de cerca de 30% entre as pessoas de 15 a 30 anos, enquanto é de cerca de 20% entre as pessoas mais velhas”, afirma o estudo. O contato com a diversidade faz muito mais parte da vida cotidiana dos mais jovens.
Percepções positivas não se limitam aos jovens: 67% de todos os entrevistados acreditam que a imigração torna a vida mais agradável, e 64% veem a imigração como um meio de combater o envelhecimento da sociedade.
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redação

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